Excertos de um artigo de opinião no jornal A Bola de 17 de Maio de 2007 de autoria de Jorge Olímpio Bento
... é preocupante a situação de desemprego que afecta dezenas de milhar de jovens licenciados de verdade.
...O desemprego de tantos milhares de licenciados (e já de mestres e doutores) é um problema muito grave não só para os atingidos, mas sobretudo para o presente e futuro do país. É contra todos os princípios de humanidade e justiça, de equidade social e de visão estratégica e politica que se deprecia o investimento feito pelos jovens e suas familias e que se desperdiça um tão elevado capital de conhecimento e formação.
Os jovens em causa construiram sonhos e ideais, conceberam projectos superiores de vida, concluiram os seus cursos cheios de ambições, com força de vontade e criatividade, com enorme potencial de dinamismo e renovação, dispostos a dar o melhor de si à comunidade – e em cima de todo este manancial de euforia, esperança e optimismo é derramado um balde de desconsideração e péssimismo. À espera deles estão o vazio, a descrença, o desprezo, a desconsideração, a frustração e o desespero. Afinal estudaram, esforçaram-se, trabalharam, investiram – e não foi pouco – e não vêem nada reconhecido. Ouviram e ouvem a toda a hora – da boca dos politicos em geral e dos governantes em particular; dos donos das grandes empresas e serviços, dos peritos em relatórios e dos oráculos dos órgãos mediáticos – que o país carece de mais licenciados, mestres e doutores e são agora obrigados a confirmar que todos esses discursos e declarações não passam de logro e hipócrisia.
Quando e como é que estes jovens vão constituir familia? Quando é que vão alcançar um emprego decente? Se o conseguirem, será quando as suas melhores energias estiverem gastas e as suas ilusões sufocadas pela dúvida, pelo desencanto, pela frieza e ansiedade, isto é, quando estiverem exauridos do potencial de entusiasmo e inovação, de entrega generosa e transburdante que por certo levariam para a sua profissão. Se o país trata assim os seus jovens, se os condena a serem vencidos da vida, que presente quer afirmar, que amanhã quer construir?!
As implicações desta realidade são diversas e profundas e mostram que o país não é pensado a sério, que se mente e mantém a farsa em todos os sectores, que há corporações com interesses nada sintonizados com a formação sólida de quadros. Não se deseja transcender a barreira do obscurantismo. O que se quer é gente formada pela rama e à superficie em cursinhos feitos a correr, gente que possa ser fácilmente ludibriada e manipulada, submissa e incapaz de se pensar a si, aos outros, ás coisas e causas, de erguer questões e problemas e a quem seja paga uma ninharia. Isto é a pura verdade. É esta a formação que interessa; a outra – exigente, alargada e profunda – é indesejada.
...Enfim, é este o país que temos e queremos ter, com os actos e factos a desmentir as palavras.
Preocupante, acrescento eu, porque para além de tudo isto, não raras vezes deparamos com jovens licenciados a exercerem profissões completamente desajustadas dos seus cursos, porque de empregos... estamos todos elucidados, poucos ou nenhuns se criam.
Assitimos paralelamente a um aumento substancial de desemprego, o que vem agravar ainda mais os problemas de todos os nossos jovens, e é um sinal de que os que existem vão sendo paulatinamente encerrados.
Que país é este? Que governantes são estes? Que futuro vai ser o dos nossos jovens?
Que futuro vai ter este país? Quem souber que responda!
12 comentários:
Caro José,
O cenário actual é infelizmente esse!
Será o ensino que não estará vocacionado para o trabalho?
Serão excesso de cursos superiores?
Será fruto do cenário económico que vivemos?
Um abraço.
Olá Ernesto
Eu não sei de quem é a culpa, mas de certeza que os sucessivos governos que temos tido o serão.
E esta é na realidade a situação dos nossos jovens.
Infelizmente, não só os jovens a sentir na pele essa dificuldade de arranjar emprego, são-no tambem todos aqueles que tem vindo a ver os seus postos de trabalho a perderem-se.
É um quadro negro este que Portugal atravessa.
Espero muito sinceramente que tudo isto melhor, não já para mim, mas para os filhos e os netosde todos nós.
Um grande abraço
José Gonçalves
Caro José Gonçalves,
Deixo apenas mais um pequeno contributo à discussão.
É, de facto, preocupante a situação de desemprego que afecta dezenas de milhar de jovens licenciados no nosso país.
Com essa realidade estamos todos de acordo e todos desejamos vê-la alterada o mais rapidamente possível.
Mas, esta é uma realidade que, infelizmente, já nos acompanha há longos anos. Como sabe, a minha experiência de trabalho, de vários anos, na área do emprego, permite-me afirmar, com segurança, esta triste realidade e, a actualidade não é diferente.
No entanto, é importante que se esclareçam alguns menos esclarecidos sobre o aumento do desemprego nesta camada da nossa população.
Até algum tempo atrás, o INE, que a par do IEFP, produz estatísticas sobre o desemprego, incluia no cômputo das pessoas activas empregadas todos quantos integrados em Medidas de Apoio ao Emprego, no âmbito do Mercado Social de Emprego e as que frequentavam acções de formação. Como é óbvio, esta situação acabava por não espelhar a verdade real do desemprego.
Actualmente as estatisticas são produzidas excluindo essas pessoas Pelo que, por essa via, os números do desemprego aumentam claramente.
Para além disso, há ainda, a considerar outro factor que, a meu ver, contribui também para que os nossos jovens licenciados se debatam com dificuldades de emprego. O nosso tecido empresarial é constituído por um elevado número de pequenas e médias empresas e, apesar dos mil´~oes já investidos em formação, grande parte dos nossos pequenos e médios empresários encontram-se ainda num estádio formativo indesejável e muito limitado, com modelos de gestão arcaicos que lhes tolhem a visão de futuro e investimento em qualidade. Logo, procuram essencialmente mão de obra barata e um licenciado é para eles um investimento muito caro.
Mentalidades empresariais que urge alterar.
Cara Alzira
Fico assim a saber que antigamente existia mais desemprego do que todos nós conheciamos, mas isso não invalida que hoje esses numeros mesmo assim não sejam alarmentes.
Eu sei que vivemos num mundo de mentiras e hipócrisias. Os governantes, todos eles não só actuais, têm normalmente discursos optimistas e cheios de promessas mas depois... bem depois aparecem as dificuldades, só que não vêm acompanhadas com as verdades.
Quanto aos nossos empresários, já em outra ocasião e neste blog dei a minha opinião.
Quem andou de perto junto da Indústria e do Comércio, sabe que nestes últimos anos fomos invadidos por artigos feitos em paises onde a mão de obra é quase de borla. Por isso até os compreendo, só com mão de obra barata poderão concorrer com essa luta desigual e desleal que nenhum governo até à presente data salvaguardou. Mas não é só isso, eles investem hoje e querem os dividendos amanhã, é uma questão de mentaliade e penso que será por aí que isto tudo tem de começar a mudar.
Por vezes a vontade e a ansiedade andam mais depressa que a realidade
Mas o problema continua, os nossos jovens têm cada vez mais dificuldades no mercado de emprego, e isso é uma verdade incontestável.
Eu quero acreditar que os homens deste País, serão capazes de agarrar o futuro nas suas mãos e dar a volta a esta triste realidade.
Agradeço-lhe o seu comentário que valorizou e de que maneira o artigo que não sendo meu achei perfeitamente oportuno e actual.
Um abraço
o problema não está só nos jovens.
na maior parte das empresas pede-se "com experiência profissional".
bem, as licenciati«uras e os mestrados terminam na casa dos 30/34.
os estágios profissionais vão empatando o problema do desemprego destes jovens.
a partir dos 35 começamos a ser velhos.
sobra m 2/3 anos para arranjar emprego.
aos 40 já quase não nos conseguimos integrar em lado nenhum. esperamos pelos 63 onde ainda somos muito novos para a reforma.
então, durante cerca de 20 anos o que fazemos?
vamos para os partidos politicos colar cartazes à espera de uma cunha?
de facto, é uma opção mas... estes vão ser os homens e mulheres que vão governar o país no futuro.
só mais uma questão - quando se frequenta um curso de formação profissional (com vista à integração na vida profissional activa) é obrigatório fazer um estágio nas empresas. sabem que são os formandos e não a instituição formadora que têm de encontrar um local para fazer um estágio? e sabem que não há contrapartidas para a empresa? (claro que há excepções mas vamos pensar na regra).
e há alguma entidade que se preocupe com a qualidade dos formadores que dão esses cursos? só um certificado não chega! sabem quantas pessoas têm licenciaturas e certificados tirados em vãos de escada?
é o país que temos e que urge mudar!
Minha cara Lucia
É tal como descreve, mas realmente este é o País que temos.
Eu gostaria muito que esta mentalidade se alterasse mas infelizmente não estou muito optimista.
Além de tudo o mais, tenho dois filhos, já formados que têm sentido todas as dificuldades que estão descritas neste artigo.
Talvez por isso eu o tenha trazido ao Gentes e Frentes.
Um abraço
José Gonçalves
Nos unamos cada vez mais contra às mentiras das oligarquias.
Um abraço, José Gonçalves.
Carlinhos meu caro
Obrigado por sua visita. É sempre um prazer vê-lo por cá.
Tem toda a razão, precisamos de estar unidos porque a mentira tem servido de verdade para os que ao poder chegam.
Um abraço também para si.
José Gonçalves
CAro José, de facto o tema é aliciante o da mentira e a politica. Mas primeiro quero-te pedir desculpa do meu atraso no comentario. Ele deve-se como sabes a algumas contrariedades da minha vida profissional que conheces.
Mas sobre o assunto do teu comentario, curiosamente o Vasco Pulido Valente escreveu ( um excelente artigo no Publico ontem sabado)que metafóricamente aborda esta questão da mentira e da politica. É inutil recordar o tema seja em que circunstancia for, porque politica e mentira costumam ser boas companheiras. No entanto parece , que os politicos da actualidade mentem por torpeza. Ao contrario de epocas passadas mas recentes.Em que mentir aos cidadão não era coisa que se improvisa-se como agora. Era uma arte com todas as regras. E hoje onde está a regra? é o dito pelo não dito e que se lixem os outros? Onde está a etica na politica?
Um abraço
Antonio.
bolas antónio, não dá para medir os politicos todos pela mesma bitola.
há gente com vontade de mudar as coisas
Meu caro António
Não precisas de pedir desculpa pois como dizes, sei bem dos teus afazeres.
Como diz a lucia,realmente não dá para medir os politicos todos pela mesma bitola,mas infelizmente há poucos que possam ser medidos de outra forma.
Os politicos têm feito escola essencialmente na mentira, desde logo pelo que prometem e sabem que não podem cumprir.
É uma pena mas é a pura realidade.
Um abraço
José Gonçalves
Amiga Lucia Duarte
Há muitos anos que todos nós esperamos por aqueles que chegam com verdadeiro interesse em mudar.
Só que as dificuldades que lhes são criadas são tantas que acabam por desistir ou "entregam-se" após algumas batalhas.
Os que não se deixam corromper afastam-se, porque a força dos "lobys" é tremenda.
Um abraço
José Gonçalves
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