sexta-feira, 13 de abril de 2007

Guerra, Violência e Imagem


"A guerra é uma massacre entre gente que não se connece para proveito de gente que sim se conhecem mas não se massacram”. Paul Valéry

Para o Ocidental, a guerra converteu-se num fenómeno ambivalente, como indicou Freud em 1920 na obra “Além do princípio do prazer”. Introduzindo o conceito de instinto de morte, por analise das matanças nas lutas de gladiadores no Coliseu de Roma (cimeira da cultura ocidental) até às mortes pela Inquisição. Entretenimentos que, na actualidade, se prolongam no cinema e em filmes como : “Apocalipse Now” , “Day After” , “Independece Day”, e jogos de guerra de consolas.Em qualquer destas realidades lúdicas a guerra, a destruição, a violência e, a morte, estão sempre presentes. Levando-me a pensar na forma como tudo isto se consome, ser indicador de uma espécie de regresso simbólico à antiga violência circense.Na humanidade há uma produtiva cultura de terror desde Caim, e uma das teorias comuns sobre a aderência espontânea à violência, e aos espectáculos que cria, sugere que permite descarregar, de modo imaginário, as pulsações agressivas do indivíduo, provocando descargas libertadoras de adrenalina sem consequências negativas directas em terceiros, oferecendo até virtudes terapêuticas a pessoas com marcadas tendências agressivas (Stanley Milgram).Obviamente que, nem toda a gente partilha desta ideia e, mentes subversivas ou corrosivas como a minha dirão que as imagens da guerra, na televisão, são a forma actual de ensinar a geografia. Quem não sabe agora onde se situa o Iraque, o Ruanda, Mogadíscio ou a Tetchenia?Como espectáculo, a guerra provoca desesperos, dores, angústias, medos e mortes mas umas são as mortes autênticas e outras as de ficção. E há diferenças em ambas e realidades psicológicas distintas. Um espectador não se impressiona do mesmo modo frente ao “Apocalyps Now” que perante um documentário sobre atrocidades na Somália. E foi a presença reiterada da morte na televisão a cores que permitiu distinguir o sangue do barro. Uma particularidade que provocou o desassossego colectivo nos EU obrigando a retirada das tropas americanas do Vietname.A guerra do golfo, a primeira guerra da história a ser televisionada, foi asséptica pela censura militar contrastando com a hiper inflação mediática, porque foi extirpada do seu cenário o dramatismo da morte.Veja-se como nas imagens acima, mostram a suposta precisão cirúrgica das bombas inteligentes realçada em planos gerais afastados, pontos de vista aéreos, sem nunca descer ao terreno das vítimas ou mostrando os bombardeamentos nocturnos como velas acesas numa árvore de natal . Deste modo, as bombas podiam ser destrutivas, mas nunca assassinas.Este tipo de censura converteu a guerra em mais um espectáculo televisivo de efeitos visuais ao gosto dos que deliram com pirotecnia e efeitos das novas realidades virtuais, como as crianças. Infelizmente uma coisa é a realidade, outra muito distinta, a sua representação mediática. E no caso da visão electrónica como na escrita, ambas são oriundas de um centro difusor de imagens obediente a uma estratégia racional e esteticamente elaborada, com um sentido subjectivamente pré - determinado, ao contrário da visão naturalista que é subsidiária do real empírico.Este ardil está a moldar a espécie humana em dóceis e amestrados telespectadores, obedientes a um poder concentrado em círculos informativos cada vez mais restritos e com capacidade de configurar o real à medida dos seus interesses comunicacionais . É por isso que humanidade está a converter-se em espectáculo de si mesma. E a sua auto - alienação está a alcançar um ponto que lhe permite viver a sua própria destruição como gozo estético…será essa a finalidade?

Ps. todo o comentário bem disposto e elevado é bem vindo.

12 comentários:

Maria Romeiras disse...

É difícil comentar um texto tão bem elaborado. Lembro-me da produção de Marcelo Mazagão, "Nós que aqui estamos", em que se faz uma breve e irreverente história do século XX e o tema da morte é abordado de diferentes formas, como o da violência e globalização de imaginários. "Numa guerra nunca se matam milhares de pessoas..." diz. Matam-se indivíduos. E não deve ser aceite esta naturalização do horror imposto. Como historiadora e actualmente em desenvolvimento de trabalhos sobre identidade passo por estes temas. Como mãe de um jovem de 12 anos estudo as suas reacções à informação do mundo exterior. Porque o horror é esse, sentirmo-nos protegidos e naturalizarmos a violência como longínqua, os tais planos de que fala no seu post são transpostos com acuidade para qualquer notícia ou fotografia, alternamos a proximidade e o choque com a distância, somos manipulados pela diluição do indivíduo na estatística (=ciência do estado), perdendo a noção da violência que é preciso revelar e analisar. A guerra é um fantástico sistema de manipulação de massas e de mentalidades, como nos deixámos chegar a este ponto? Como passámos a bonecos que recepcionam informação textual ou gráfica de forma passiva, limpando consciências com olhares complacentes e comentários surrealistas? Sim, a guerra é um mal e é produzida como cinema, os actores não sabendo do guião, os produtores e beneficiários à distância máxima de segurança... Acredito que a divulgação de estudos e reflexões correctas passem à nova geração uma mensagem diferente. Que a educação possa mudar mentalidades. Acredito sobretudo que as palavras são melhores e mais incisivas, mais coerentes e fortes para mudar a estrutura que novas guerras construídas em série. Temos a humanidade descontrolada. É preciso repensar valores, é preciso traçar prioridades e é sobretudo preciso denunciar e não pactuar com situações de manipulação.

Verena Sánchez Doering disse...

fui invitada a conocer este blog y esta de un nivel magnifico
los felicito
las imagenes impresionan el texto buenisimo
la guerra es el poder de mentes ambiciosas y egoistas que gobiernan el mundo y se olvidan de lo maravilloso que es la paz y la libertad
un abrazo y un buen fin de semana

Anónimo disse...

Se estamos a viver a nossa própria destruição, como se de um gozo estético se tratasse, isso não sei. Sei, infelizmente, que a história da humanidade foi feita de guerras e de convulsões ao longo do séculos. No entanto eu costumo usar aquela frase que diz, Outros Tempos, Outros Modos... Mas pergunto-me, será? Pois cada dia vemos mais guerras, mais fome, mais injustiças, e como o meu amigo bem refere, hoje em directo e a cores.
Numa perpectiva pessimista, diria que caminhamos para a auto-destruição. Mas também acredito que Outro Mundo é Possível, e por esse aspiro. Serei um idealista? Sei que que não estou sozinho, somos muitos, e um dia chegaremos lá...
Magnifico Artigo. Um Abraço e Bom Fim de Semana

papagueno disse...

Desde que o homem existe que anda em guerra. Os cientistas dizem que o gene da violência existe em todos nós, restos de uma existência em que se tinha que matar para comer ou não ser comido. A guerra esteve presente em todas as fases da história do Homem por isso mesmo não acredito que alguma vez possamos viver num mundo em que esse mal seja erradicado.

A. João Soares disse...

Caro António Delgado, parabéns pela forma como aborda um tema de tão grande importância. `´E certo que sempre houve guerras. Mas interessa pensar que é possível viver sem elas. Há muitas formas de resolve as discórdias sem ser necessária a violência. Aliás toda a guerra acaba a mesa das negociações. Então porque não se começa por essa fase?
Não devemos ficar indiferentes e aceitar as catástrofes humanas como inevitáveis. Cada um deve fazer o máximo que puder par que haja paz.
Dizer que morrem dezenas num atentado ou num ataque bélico, é a lavagem do drama. Na realidade , morreu o Manel que deixa a mulher e os filhos, sem o marido e o pai. Morreu o Zé, etc Trata-se de indivíduos bem identificados com família e problemas que lhe deixam por resolver. A mente humana é perversa e mesmo quando morre meia dúzia na estrada em dia de festa, esquece que são pessoas, cada um deixa desgostos e lágrimas nos familiares e amigos. Começa a faltar o respeito pela vida de cada um.
É bom aparecerem discussões sobre estes temas para cada um sentir a sua responsabilidade neste esclarecimento. Não podemos ficar impassíveis.
Abraço

Anónimo disse...

Parabéns pela leitura que fazes de um tema tão deplorável e insano.

Ficamos muito honrados com tua visita à bodega, sejas sempre bem vindo.

Abs.

LLUVIA disse...

Gracias ANTONIO por tus siempre amables comentarios en mi blog. Ayer quise venir a leer tu artículo, pero al final no pude.

Abordas un complicado problema de la humanidad, aún sin resolver. Y quizá cada vez mayor. Porque la violencia cada vez está más presente en nuestras vidas.
Pero ¿es el poder( politico y/o religioso) que manipula a las masas
para que luchen por sus intereses; y éstos se dejan conducir? O ¿es que el ser humano es tan violento que necesita de la guerra, destrucción y muerte?

Yo quiero creer, que somos manipulados. Que nos presentan las noticias y los acontecimientos, no como son , sino en función de la reacción que quieren tener de el pueblo...

No sé, yo quiero confiar en que la humanidad avanza hacia el diálogo y la razón..aunque la actualidad parece desmentirlo..

Muy interesante tu artículo. Te felicito!

Um abraço grande!

Anónimo disse...

Definitivamente, guerra e violência não são temas sobre os quais, hoje, sinta vontade de escrever.
O que consigo sentir é revolta contra os senhores da guerra e os interesses que a movem.
Não esqueço os dias da minha junventude que passei ouvindo, atrás de mim, o soar das metralhadoras enquanto corria em direcção de um liceu distante onde apoiava as inocentes vítimas da destruição humana, do egoísmo e cegueira dos "chamados" homens defensores da liberdade e independência do povo.
De quanta crueldade o Ser Humano´é capaz!...
Mas, não são só estas guerras que me ofendem e magoam. Tal como elas, a guerra da mentira, da hipocrisia e maldade humana são tão ou mais destrutivas que elas, da Paz, do Amor e da Concórdia entre os Homens.

Ernesto Feliciano disse...

Amigo António.

Um excelente texto que retrata um dos grandes males da humanidade.

As guerras ... os vários tipos de guerras ... o que está por detrás das guerras ...

Um abraço e bom fim-de-semana.

António Inglês disse...

Caro António

Infelizmente, o mundo em que vivemos sempre se envolveu em guerras.
Os jornais não falam noutra coisa.
As televisões entram-nos pela casa dentro, sempre com os mesmos noticiáriso á volta das guerras.
Grandes ou pequenas, bélicas ou verbais não deixam de ser guerras.
É uma pena não deixarem de existir interesses por detrás de todas elas.
Um abraço e bom fim de semana,
e parabéns pela mudança de visual do blog.
José Gonçalves

Anónimo disse...

Querido António,
Gostei mesmo do texto sobre a guerra. Infelizmente, o ser humano continúa a resolver os seus problemas como os homens das cavernas, agora é com bombas e armas da última tecnologia. Mas a finalidade é eliminar o que está em frente, em lugar de dialogar. Mata-se em nome do petróleo, de Deus ou do que seja.
Seguirei o lema de Maio 68 "Faites l'amour et pas la guerre!"
Beijinhos
Ema Pires

Geraldo Gomes disse...

O que estás fazendo para que não haja guerras e violências no planeta terra?Comentando-as?Exceto esse LOUCO que vos escreve não existem seres humanos dispostos a erradicarem tais anormalidades do planeta terra e sabes por que?Porque são "indústrias"fabricadas pelos seres humanos que geram lucros e que proporcionam felicidades.Conheces algum local habitado por seres humanos que não haja violência?Conheces algum ser humano que não seja violento?Conheces algum homem ou mulher talentosa ou gênio na prática da não-violência?Eu assumo que sou violento e que sou a "CAUSA" da violência mas lamentavelmente os pacificadores,os inteligentes e os reclamantes da violência são incapazes de assumirem suas próprias violências e de enxergarem a CAUSA das mesmas diante de seus próprios espelhos.O que fizeste hoje para que haja a PRIMEIRA ERA da não-violência no planeta terra.Se vossos vínculos violentos derem-te algum tempo disponível acesse:www.geraldo-gomes.blogspot.com Depois de lêres todo conteúdo espero que compreendas de que nada fazes para o desativamento e o desarmamento da ARMA[o ser humano]mais letal e destrutiva do planeta terra.Ignorar-me é fácil,é comum,é natural e é normal,QUERO VIR IGNORARES A VIOLÊNCIA.Em relação a violência,SOMOS O QUE FAZEMOS E NUNCA DEVEMOS SERMOS O QUE NOS FAZEM.GERALDO GOMES.