sábado, 31 de março de 2007

A Nova Bitola de avaliação


Os tempos estão a mudar e as regras de trabalho encontram-se em mutação. Somos hoje avaliados por uma nova bitola. Não apenas pela nossa inteligência ou pelas nossas habilitações mas também pela forma como nos gerimos a nós próprios e aos outros.
Esta bitola aplica-se cada vez mais na escolha de quem é admitido, e de quem não o é, de quem sai e de quem fica, de quem é preterido e de quem é promovido.
As novas regras determinam quem tem maior probabilidade se se tornar um profissional excelente e quem está mais sugeito a descarrilar. E independentemente da área em que estejamos a trabalhar no momento, medem as caracteristicas que são cruciais para o valor da nossa candidatura a promoções ou a empregos futuros.
Estas regras pouco têm a ver com aquilo que na escola nos disseram que era importante ; as habilitações académicas pouca importância têm neste padrão. Parte-se do principio que as pessoas já têm toda uma aprendizagem básica suficiente , então a avaliação das pessoas vai centrar-se nas qualidades pessoais , como a iniciativa a empatia , a adaptabilidade e a capacidade de persuasão, a competência , enfim um conjunto de caracteristicas que vão ser necessárias para que uma pessoas possa saber qual a direcção que deve dar à sua carreira profissional, podendo tornar-se assim uma pessoa util á sua familia e porque não, á sociedade em que está inserido.
Infelizmente em Portugal tudo isto ainda nos passa um pouco ao lado. A inveja, o deixa andar e a incompetência, o compadrio andam ao nosso lado e são certamente um entrave ao nosso desenvolvimento.
Se é um pouco assim nas empresas de pequena e média dimensão as grandes organizações têm já outros mecanismos em que se promove um clima de competências forçando os menos capazes ou menos interessados, a pedalar com mais intensidade , para que possam sobreviver e contribuir para o todo da organização.
Infelizmente pouco ou nada disto se passa com a classe Política , raramente não são os mais capazes que seguram as rédeas do poder. Vejam os Autarcas que estão ao nosso lado!
O cidadão mais atento pode ver o que se passa com as classes partidárias, e é uma tristeza o que se vê, pessoas que já foram até ministros e outras coisas mais, terem comportamentos morais e cívicos que não seria pensavel esperar de pessoas menos instruídas. É o que temos , mas este marasmo tem que mudar.
É nossa obrigação e dever, lutar para que sejam sempre os melhores a ocuparem os cargos que de uma maneira ou de outra, nos vão afectar positivamente , ou se forem menos válidos , será sempre de efeito negativo para todos nós.

Vamos á luta.

14 comentários:

A. João Soares disse...

Caro Marco António,
Parabéns pela qualidade deste texto. Muito interessante. Transcrevi-o para Do Mirante e Do Miradouro e coloquei uma referência em A Voz do Povo, com a indicação do autor e do vosso blog.
Um abraço e votos de uma Páscoa Feliz
A. João Soares

Anónimo disse...

À luta, com que armas?

Autarcas ao nosso lado? Quem os quer?

Está bom de ver que o critério mais objectivo na dita meritocracia propalada pelo PRACE, vulgo Reforma (sic!) da Administração Pública será o "cartão" partidário.

Reconhece autoridade (democrática) a governantes licenciados pela Universidade Independente para o avaliar, para nomear ministros e directores gerais que o vão avaliar? Não lhe parece que as exonerações podem servir exactamente para fins contrários aos que refere? Que para os membros da casta bramânica as exonerações são, em regra, autênticos jackpots?

Concluo ironizando a referência com que começa o artigo. Não será isto tudo uma questão de "bitola"? É que a dita "bitola ibérica" já só existe deste lado.

Anónimo disse...

Infelizmente meu caro, o sol quando nasce ainda não é para todos.
As regras de trabalho é verdade que têm vindo a mudar, mas tambem o poder vai mudando e hoje por hoje não vejo que as admissões ou promoções se façam por mérito ou competência.
Infelizmente no mercado de trabalho que ora existe, vale tudo. Quem tem as melhores e mairoes "cunhas" safa-se, quem as não tem, passa a vida a enviar curriculos, a responder a entrevistas e mesmo que as suas qualificações o aconselhem, se não houver a tal "cunha" continuará o seu calvário.
Nas grandes empresas , ou grupos empresariais, hoje o funcionário é um "número" na folha de salários disposto a tudo, nalguns casos a fazer horas extraordinárias sem que as receba, porque pelo menos o seu local de trabalho está assegurado.
Seria de esperar que as novas regras da democracia nos trouxessem principios éticos que acima de tudo permitissem priviligiar a competência, mas no entanto não é isso que ainda acntece.
E muito sinceramente, não tenho fé nenhuma que tal venha a acontecer nos próximos anos.
Precisaremos todos de continuar a pugnar de forma enérgica e ruidosa para que um dia, breve, os novos conceitos e as novas regras possam ser uma realidade.
José Gonçalves

Anónimo disse...

Caro Marco António,
Pegando nas suas palavras " (...) as habilitações académicas pouca importância têm neste padrão. Parte-se do principio que as pessoas já têm toda uma aprendizagem básica suficiente, então a avaliação das pessoas vai centrar-se nas qualidades pessoais , como a iniciativa a empatia , a adaptabilidade e a capacidade de persuasão, a competência(…)", expresso aqui a minha indignação pelo status quo que governa este país, a vários níveis, mas sobretudo ao nível do emprego. E, falo em emprego propositadamente uma vez que, trabalho muito poucos(as) querem...
Sobretudo ao nível do emprego público, assiste-se hoje a uma gama de compadrios e preferências assustadora.
Não raras vezes os organismos publicitam concursos sabendo de ante mão quem vão contratar (normalmente pessoas que já prestam serviço para o mesmo)e, quando alguém mais atento e culto consegue provar que foi excluído do referido concurso, de forma ilícita ou irregular, então o que normalmente se faz é anular o concurso e publicitar um outro, este já com o fato melhor talhado à medida de quem se pretende que o vista - no mínimo, é vergonhoso, imoral, anti-ético e ilegal.
Outras vezes, os mesmos organismos públicos criam lugares de assessores, secretárias, adjuntos e similares, ao arrepio ou em conformidade com a lei mas, sem que as admissões obedeçam a critérios objectivos de selecção - é importante que assim seja uma vez que, de outra forma, seria mais difícil dar emprego (trabalho...nem pensar) a toda a clientela amiga que está à porta esperando para entrar.
Normalmente, dos critérios usados para estas admissões, as habilitações literárias não têm carácter preferencial. Nem poderia... Tratando-se de empregos de "confiança", o importante é o servilismo, caso contrário ainda se corria o risco de contratar alguém mais qualificado e competente do que o contratante e... valha-nos Deus... Seria necessário despedi-lo depois. A sombra que faria esconderia o "brilho" que o contratante almejava ter...
Já imaginou uma situação destas?!... Seria desastroso...
Já no sector privado, as leis da concorrência obrigam a posturas e critérios diferentes, de maior rigor. É que, aqui, está em causa o lucro, o crescimento portanto, há necessidade de contratar os melhores, aqueles que mais e melhor produzam. As habilitações académicas e a experiência e conhecimento profissional assumem maior relevo porque deles dependem também o sucesso ou insucesso da empresa.
Já imaginou o que seria se o sector público usasse também esta bitola?
Se assim fosse, provavelmente a grande maioria dos empregados públicos com cargos "ditos" de confiança acabariam todos e, os incompetentes dos seus patrões também...
Se de competências se tratasse, a grande maioria deles teria que ir para a escola e/ou formação profissional.
Que desperdício, não acha????!!!!

Anónimo disse...

Boa noite a todos,
O artigo apresentado está muito bom e tem a benção da actualidade. Mas não posso concordar com algumas opiniões expressas que ligam directamente a competência das pessoas ao facto de se terem formado na Universidade Independente. Se eu percebi essa unviversidade está em maus lençois por acções de corrupção dos seus dirigentes e não pela qualidade ou não do seu ensino, que também é discutível, como é óbvio.
Se quiseremos fazer uma avaliação séria das universidades teremos que avaliar todas, públicas e privadas, o que já deveria de ser uma realidade há muito tempo e se assim fosse, a grande maioria das privadas teriam que encerrar portas, umas por umas razões outras por outras. Como é que se compreendem universidades que são autênticas máquinas de produzir licenciados? Já se esqueceram do elevadíssimo número de licenciados que a UAL produziu nas Caldas? Posso garantirvos, porque conheço, que muitos desses licenciados têm pior formação académica do que muitos alunos do 12º ano de escolas que optam por rigor científico e académico.
Voltando ainda à questão da independente e ao facto de que se fez celeuma - o primeiro ministro ter-se licenciado nessa universidade.
Já repararam que sempre que o PS está no governo a fazer um bom trabalho aparecem forças contrárias a criar casos de âmbito nacional que envolvam elementos do governo? Foi o caso do Paulo Pedroso e agora o do 1º ministro. Já pensaram qual será o objectivo destas campanhas? E a quem interessarão elas?
Claro que áqueles que tendo lá estado só conseguiram afundar mais o barco. E será que nas hostes desses senhores mal-formados que apenas querem retomar o tacho que perderam pouco se importando com este país, não existem também elementos formados na independente ou outras que tais?
Por mim, acho muito bem que se investiguem todas as universidades mas parece-me uma pouca vergonha que peguem num caso concreto de corrupção de uma delas para atingirem o 1º ministro que, apesar de não concordar com todas as medidas que tem implementado, a verdade é que no curto espaço de tempo que está no governo fez mais por este país do que o psd e cdss em 3 anos de governo ou desgoverno.
Portugal precisa de estabilidade social e política e não de abutres sedentos de poder pessoal para quem vale tudo.

Anónimo disse...

Pode ter a certeza que numa grande maioria de licenciados em qualquer Universidade, Pulica ou Privada, forman-se pessoas que sabem muito menos qque muitas pessoas com(o antigo 5º ano ) equivalente ao 9 de hoje. E digo mais ainda saiem das Universidades sem saber ler nem fazer contas.
XRéis

Ernesto Feliciano disse...

Caro Marco,
Neste contexto parece-me oportuno falar num novo conceito - a flexisegurança.

Este conceito de "flexisegurança" vai ser importado da Dinamarca.

Este modelo abre a porta aos despedimentos, mas reforça os mecanismos de apoio social.

Um abraço.

Anónimo disse...

Caro XReis,
Ambos sabemos do que falamos. Provavelmente, ambos somos do tempo do antigo 5º ano (hoje 11º ano) e temos essa noção. Para além de que, no meu caso concreto, tenho orientado muitos estágios curriculares de alunos do ensino superior e, vergonha das vergonhas, muitos deles nem escrever sabem. Vejo-me grega para corrigir os respectivos relatórios dw estágio. E, há algum tempo, uma das professoras de um dos estabelecimentos de ensino superior de origem de vários estágiários que eu orientei, veio pedir-me para orientar mais estagiários porque os que faziam estágio comigo saiam a escrever bem... Aquela Senhora, se tivesse pensado na barbaridade que estava a dizer dela própria, e do estabelecimento de ensino que representa tinha-se calado e ia aprender a escrever, para depois poder ensinar os seus alunos.
E, assim vai o nosso ensino...neste país.

Anónimo disse...

Lutemos Sempre, Portugal é de Todos Nós.
Boa Páscoa a Todos os Colaboradores deste Blog

ANTONIO DELGADO disse...

Apesar de falares de avaliação focas vários pontos que seriam importantes discutir-mos noutros momentos neste espaço, dado a sua pertinência, refiro-me sobretudo à mentalidade portuguesa porque ela é, por vezes o entrave a muitas boas acções que se deveriam ou tentam ser implementadas na sociedade portuguesa. A realidade que focas sobre os métodos de avaliação, são uma dessas que estão em prática em muitos países sobretudo onde o protestantismo permitiu abolir da sociedade o espírito caritativo com que as pessoas são empregues, como é em muitos casos em Portugal. Muitas vezes não se empregam pessoas pelas suas capacidades profissionais, humanas ou criativas, mas pelas suas origens de sangue, nome ou influências familiares. Um sistema oriundo das profundidades da Idade Media onde os irmãos do rei, como não podiam aceder ao trono iam directamente para os altos cargos eclesiásticos estabelecendo a tal promiscuidade entre a Igreja e o poder. Nos dias que correm, estas relações ainda não se separaram apesar da constituição assim o determinar. Mas a o título na casta dominante é só por uma questão de estética porque certas suseranias parecem que se mantêm. Por isso é que ao contrastarmos determinados sistemas monárquicos, não verificamos que o cidadão vale pelo que é e não pela roupagem que tem. Uma concepção sociofilosófica onde a pratica do exibicionismo não existe. Por exemplo, para o português parece ser indigno trabalhar com as mãos porque é sinónimo de gente chã ou sem qualificação. São muitas a frases do linguarejar popular que atestam essa ideia “ trabalhar é bom para o preto” , “trabalha que nem um galego”, “que nem um moiro”, é um “escravo do trabalho” a colecção destas vozes são muitas. A necessidade de limpeza de sangue que se manifesta na titulitis e é um aspecto bem característico da mentalidade portuguesa. Não há ninguém que não seja Sr. Dr., Sr. Presidente ou o Sr. Eng. Como se o título desse dignidade a alguém ou fizesse dele um bom profissional. Veja-se o caso do Sapinho que segundo os jornais nem os impostos declara ao TC como é obrigado por lei. No entanto, além de mau presidente ainda foge à legalidade, infestou o concelho, com placas a branquear as suas “virtudes”... convidem-no agora a acrescentar presidente que não declarava impostos ...
Mas a psicose nacional sobre títulos é de tal ordem que nos últimos dias tem gerado uma outra que é saber se José Sócrates é ou não é diplomado em engenharia. Certos jornalistas, jornais, televisões, blogs fazem eco deste delírio que para mim é um estado patológico de demência ancestral portuguesa. Para o cidadão português não interessa questionar a corrupção existente em todos os sectores da vida política social e cultural portuguesa, nem questionar se os portugueses vivem bem ou não. Interessa é o diploma de um político que eventualmente se terá formado numa universidade que governos de oposição ao partido socialista autorizou e nunca quiseram fiscalizar e segundo parece estava a contas com a justiça por funcionamentos menos claros.

A questão da titulittis encontra ainda ecos em pais que vêem a frequência universitária dos seus descendentes como um objectivo que não alcançaram projectando para eles uma formação para ser o tal chefe, engenheiro ou doutor de quem dependiam no emprego e recebiam ordens. Esvaziando nos filhos qualquer vontade ou apetência para o conhecimento e a formação porque estas estão feridas pelo tique da autoridade. É este ponto, em meu entender que faz com que o insucesso universitário seja um facto real para que a tabela portuguesa do conhecimento académico e cientifico apontem Portugal para lugares mais modestos quando comparados com parceiros europeus. Facto com consequências profundas na criatividade e no empreendimento e emancipação do país.

Nesta promiscuidade e confusão onde ninguém se entende, qualquer instituição de carácter pedagógico quer ser universidade e qualquer presidente de câmara quer abrir universidades... municipais. Os politécnicos para fugirem a um ensino caracteristicamente politécnico aspiram ser universidades, como o IPL no distrito de Leiria. No entanto o seu Presidente autoriza concursos ilegais “à media e por retrato” como a imprensa já os designou e Ministério Publico disse pelo menos num não defender o “INTERESSE PUBLICO”. No entanto essa mesma imprensa parece não dar atenção a estes casos NADA CLAROS NO IPL com a assinatura do seu presidente como dá ao diploma de Sócrates quando no caso do IPL há indícios de não defenderem a causa pública.

Para terminar, tanto a educação com a formação são casos “ de Soberania” como afirmou o Professor Adriano Moreira numa entrevista ao jornal Público esta semana e não tenhamos medo das avaliações sobretudo aqueles que são íntegros e válidos...em frente e vamos à luta!
Um abraço Marco e parabéns pela tu pertinente postagem.

Anónimo disse...

É verdade.
Infelizmente, parece que a nossa imprensa escrita e falada (diga-se jornais e televisão) andam a soldo ou a reboque de certos interesses polítiqueiros, porque a política deve ser exercida com ética profissional e a bem do povo. Afinal de contas, fazem rolar tanta tinta por causa de um diploma de um governante (que noticiaram) e não se preocupam com as ilegalidades que se cometem no acesso de professores ao ensino universitário e politécnico?
Tanto quanto sei, e é do domínio público, o IPL tem o "rabo bem entalado" nesta matéria de concursos. O seu presidente abre-os à medida de quem quer admitir e exclui... pasme-se... docentes com doutoramento. Não se entendem estes valores...
Aliás, tanto quanto sei, há processos judiciais a correr contra o IPL devido a ilegalidades cometidas com concursos.
Não seria muito mais útil ao país analisarem-se os problemas da governação, da oposição, as carências da sociedade etc.?
Será que essa atitude da imprensa não ajudaria muito mais ao desenvolvimento deste país?!
Alguns Srs. jornalistas deviam parar, pensar e definir prioridades.
É que o jornalismo devia servir para formar e não para ocultar problemas, batalhando sempre no mesmo assunto.
É a minha modesta opinião.

ANTONIO DELGADO disse...

Estimada Maria Faia, vejo que comparte a mesma ideia de certos jornalistas ou de lobbyes que representam. De facto há em muitas universidades publicas casos estranhos que os jornalistas não querem investigar. E no caso do IPL de Leiria e o seu presidente, mas sobretudo ele devia de ser investigado pelos jornalistas, mas sobretudo pelo Ministerio Publico por causa dos processos de concursos, nada claros, que aquela escola faz com o beneplacito do seu Presidente. Possivelmente encontrariam e devendariam muita coisa nada série e que parece, pelo menos até à data, estar em total impunidade. Os jornalistas podiam começar por inquerir o proprio Snesup ( Sindicato nacional do Ensino Superior) ler o semanário Sol e visitar o blog (higher education - univercity) http://universitas.blogspot.com/
numa postagem concurso com retracto, cujo autor foi presidente daquele mesmo sindicato. Ganhei coragem sejam sérios nas noticias.

Anónimo disse...

Boa noite a todos. Não conheço de todo os autores e fundadores deste blogue, salvo um...; desde já os meus parabens pela iniciativa e pela oportunidade e perspicacia dos temas em debate.
De facto o conteudo da postagem do Marco António, está cada vez mais na ordem do dia e é transversal a toda a sociedade portuguesa, tornando-se um dos paradigmas da nossa História das Mentalidades. O texto apesar de abordar várias questões pertinentes, vou só debruçar-me sobre a história da educação que se encaixa na história das mentalidades.
A história da educação foi, durante largo tempo, essencialmente institucional e ideológica. O seu enqudramento preferencial era, por tradição, a monografia, fosse ela sobre um colégio ou uma universidade ou - no que respeita às pequenas escolas - uma diocese; o objecto da sua predilecção eram os discursos regulamentares ou pedagógicos sobre a educação. Por exemplo em França, a função atribuida (conscientemente ou não)a uma história deste tipo era a de incentivar à sua maneira os combates travados em volta da escola, no tempo dos começos dificeis e contestados de um ensino laico e obrigatório no Estado Novo.
Após a revolução dos cravos em 1974, rompendo com esta tradição, alguns(contam-se pelos dedos) historiadores e sociologos, sustentaram e sustentam uma nova problematica que põe como questão central os laços evidentes mas complexos que ligam as instituições escolares às estruturas de uma sociedade. Mas é de facto com os trabalhos de F. de Dainville em França ou um pouco mais tarde, L. Stone em Inglaterra; abre-se a possibilidade de uma sociologia retrospectiva dos recrutamentos escolares e universitários. Trata-se de um metodo quantitativo que procura reconstituir o perfil das conjunturas e o equilibrio geográfico e social das populações escolarizadas. Nesta base, a interrogação pode centrar-se nas relações reciprocas existentes entre, por um lado, o volume e composição dos efectivos escolares num dado momento e por outro, os movimentos - demográficos, economicos, religiosos ou até intelectuais - que atravessam a sociedade em questão. A este 1º passo que fez com que ficássemos a conhecer melhor os colegios religiosos franceses e os universitários ingleses, veio juntar-se a lição dos sociologos. Neste campo, o papel decisivo pertence a P. Bordieu e a J.C.Passeron. Ao fazerem a análise do sistema de ensino contemporâneo, formularam novas questões; que nós aqui em Portugal, mais uma vez passámos ao lado - a das relações entre as origens socioculturais dos alunos e a duração dos seus estudos ou o seu sucesso escolar; a dos laços entre a passagem pela escola, a obtenção de diplomas e a mobilidade (ou imobilidade social). Ora, os históriadores elaboraram então, e não tardaram a utiliza-lo - um novo instrumento de trabalho conceptual e estatistico para resolver estes problemas - as noções de herança cultural, por exemplo, as de possibilidade de acesso e de eliminação, os dados fornecidos pela taxa de escolarização e pela de reprovações, ou pelo coeficiente de perdas. De facto, este instrumento de trabalho tecnico está finalmente ao serviço de uma questão central, que diz respeito ao papel da Escola no processo da reprodução social(em Portugal, tudo isto ainda nos passa ao lado). Tanto para o presente como para as antigas sociedades, a pergunta pode ser assim formalizada - é a escolarização, por intermedio do sucesso escolar, o meio essencial para a reprodução da posição social das familias; ou será apenas um atributo estatutário, um consumo de luxo sem efeito decisivo sobre a reprodução social que se opera por outras vias? Isto é como as cerejas e neste caso, uma peregunta leva a outra - a escola reforça as desigualdades, tanto economicas como culturais, que hierarquizam uma sociedade ou, pelo contrário, constitui o trampolim fudamental para uma possivel mobilidade profissional e social de que nos fala o Marco António na sua postagem?
Fortalecidos com esta reflexão e estes instrumentos de trabalho, os históriadores da educação têm acerca de década e meia para cá, multiplicado os seus estudos. No campo do ensino primário, o interesse incidiu inicialmente sobre a instituição escolar, a sua legislação e pedagogia e os seus professores. Estou-me agora a lembrar, do inquerito pioneiro feito por J. Ozouf, junto de 20.000 professores de varios niveis de ensino, incluindo o primário, que tivessem exercido a sua profissão antes de 1914 - isto tornou possivel, que se coligissem 4000 respostas e que se desenhasse um retrato colectivo das motivações,comportamentos,valores e opiniões deste grupo, decisivo para a formação da identidade e da consciência nacionais, ou melhor dizendo parafrazeando o Professor Doutor Adriano Moreira numa entrevista ao publico da semana passada - formação e educação são casos de "Soberania", como aliás já o tinha feito e escrito o meu querido amigo António Delgado.
Concluindo, massivamente empenhada numa via quantitativa e sociologica, a história da educação nem por isso é menos sencivel a outras interpretações. É pois assim, que o desenvolvimento da história da mulher fez com que se multiplicassem os estudos franceses ou anglo-saxões dedicados à educação das raparigas, do mesmo modo que a atenção prestada aos dispositivos de vigilância (desde o "Vigiar e Punir", de M. Foucault) levou a novas leituras dos textos regulamentares e pedagogicos que regulamentam, a partir de meados do século XVII, as escolas de caridade votadas à escolarização das crianças pertencentes à população urbana pobre. Os campos de trabalho são, pois, numerosos para uma história que já não confunde os discursos sobre educação com os reais processos educativos e que pode propor (uma vez clarificada a função e o funcionamento da escola nos seus
diferentes niveis)- um novo exame dos antigos interesses - as teorias e projectos pedagogicos, os metodos de ensino, os conteudos ensinados.
De facto, só assim, com estas bases de trabalho, apesar das mutações rapidas a que estamos sujeitos - sinais dos tempos globalizados, responsáveis por um fosso cada vez maior entre ricos e pobres e sem bussula social à vista; poderemos marcar a diferença - tanto nas mentalidades, como nas regras de trabalho, das novas bitolas de avaliação de que fala o Marco António.

Jorge Casal disse...

Jorge Casal

Gostava de partilhar os propósitos do texto de Marco António (do texto, digo, porque não sei se ele acredita nesse texto). Estou mais de acordo com o Anonymous e com Bárbara Tomás quando falam e sugerem o compadrio, cunhas e amiguismo. Isso é que é a cultura portuguesa que recusa (ou desconhece) a racionalidade económica e tecnológica de tipo anglo-saxónico que é a que rege os estados modernos e as economias capitalistas justas e avançadas. As culturas não se mudam por decreto ou, como diz o ditado português, «quando o mal é de nação, nem a poder de sabão».

Quem é que acredita que um chefe ou funcionário superior, no lugar de avaliador, pela simples magia duma lei, não vai atender a critérios pessoais ou de compadres, de partido, de amigos de café, de vizinhança, de religião, de sexo ou de cama? A prepotência vai agravar-se no funcionalismo público. Os funcionários mais cumpridores não são forçosamente os mais estimados das chefias e dos avaliadores.

Quanto à flexisegurança, como diz Ernesto Feliciano, é uma importação nórdica, duma cultura diferente. Ora, as inovações estranhas nem sempre são adaptadas às sociedades receptoras. Duas culturas diferentes têm éticas diferentes, e adaptam um mesmo sistema de modos diversos ou contraditórios. Estou mesmo a ver: vai-se importar a flexibilidade mas não a segurança. Veja-se como, desde que este governo começou as suas reformas, a segurança no emprego e na saúde diminuíram - flexibilidade sem segurança.

Avaliar um serviço, departamento ou escola é possível; avaliar pessoas e funcionários individualmente, diferentes uns dos outros e com tarefas diferentes, será muito mais aleatório.