
Rogério Raimundo
Vereador PCP
CMAlcobaça
Espaço para a partilha, a discussão e a troca de ideias sobre actualidades e a realidade sociocultural da região de Alcobaça. É uma tertúlia aberta e livre que se pretende elevada e em rede.
A LENDA DO LAGO
Sant’António do seu nicho, assiste vigilante
À faina. Os pescadores largam já d’amarra
E, como o mar manso,lá vão de proa à barra
Alegremente em fila, o porto demandando.
O leme vai na orça, velozes vão passando
Na linha da “ carreira “. Em frente da capela;
O Santo vai contando, um por um, vela por vela.
O vento aflige o Santo e atormenta o mar.
Toldou-se o céu também, logo a terra escureceu
E no regaço o santo Jesus adormeceu.
Já nas ondas envergam os novelos d’espuma
Mas, na conta das velas, inda falta uma!
Nos lábios d’António, trémulos d’amargura
Alguma praga ao mar, entre as preces se mistura.
Traz rumo aproado, à alvura da capela.
O bom do Santo ao ver, esse asa de gaivota
Que, tão audaz procura. A linha da derrota,
Empalidece, e treme, temendo-lhe o destino.
Não se atreve porém a acordar o seu Menino.
E murmura: “Jesus, Senhor! A vaga é tão alta”
“E aquela vela é, a mais pequena que me falta”
António nota já, não ser deserta a capela.
Uma pobre mulher, nos degraus ajoelhada
Cinge contra o seio, uma cabecita dourada;
No seu ardente olhar e nos olhos da criança,
O ponto branco brilha, como um farol d’esperança
E o pescador afoito, aproa sempre a vela
Ao vulto da mulher, à brancura da capela
E tranquilo Jesus, no regaço vai dormindo;
Mas avistando o pano, roto já p’la rajada
A cabecita d’ouro exclama apavorada:
“Ó mãe? Ó minha mãe?”
“É o meu pai, quelá vem?!”
N’isto; o Menino acorda e mui mal humorado,
O aio santo increpa, de sobrolho carregado;
“O que foi isto António?” – “Quem foi que se atreveu?”
O Santo aponta a medo, a vela, o mar, o céu.
Uma lágrima... Uma pérola pendurada.
Desvairado ao vê-la, implora Sant’António:
“Senhor... fazei bonança... O mar é um demónio... “
Jesus serenamente, do nicho então desceu,
Com uma mãozita em concha, a pérola colheu,
O seu rosado braço, enérgico balança
E às ondas infernais, a humilde jóia lança.
E no mar, defronte da capela, fez-se um “lago”
( O autor destes versos é desconhecido sendo atribuido a um pescador da época)
Escondidos no imaginário ficaram as lendas e superstições relacionadas com esta capela e com os feitos do Santo sempre pronto a proteger os pescadores que se entregaram ou entregam à sua protecção. A mais conhecida é sem dúvida a “LENDA DO LAGO”, escrita em verso, em bonitos azulejos que se encontram na frente da capela. Pena que mal tratados. Fala de um barco que entre muitos outros, saiu para a pesca num dia calmo. De repente o mar ficou embravecido e Santo António, sempre vigilante, depois de contar as velas e verificando que lhe faltava uma, tendo o menino Jesus adormecido no seu regaço, por ele chamou e este acordando transformou o mar em lago, salvando os pescadores. E assim nasceu a lenda.